sábado, 17 de julho de 2010

INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM DVE NA FASE HOSPITALAR - ESTUDO DE CASO

Gleidy Puper Ortiz*, Rafael Amin*, Vinícius Silva de Carvalho* e Miriam Bernardi Petrucci**

Módulo em Fisioterapia Neurofuncional III – Universidade Luterana do Brasil - ULBRA– Cachoeira do Sul, RS.*Acadêmicos do Curso de Fisioterapia-ULBRA-Cachoeira do Sul **Docente do Curso de Fisioterapia ULBRA-Cachoeira do Sul

          Resumo: O objetivo do estudo foi avaliar a efetividade da intervenção fisioterapêutica em paciente após Doença Vascular Encefálica (DVE) durante a fase hospitalar. O estudo realizou-se no Hospital de Caridade e Beneficência de Cachoeira do Sul, RS, contando com apenas um atendimento composto de avaliação fisioterapêutica. Após a mesma adotou-se como condutas: exercícios ativos resistido, treino de marcha, treino de AVD’s e alongamentos, com o objetivo de fortalecer musculatura, deambular normalmente, melhorar coordenação motora, manter ADM e a realização de suas AVD’s. Não foi possível observar ganhos por tratar-se de apenas uma intervenção, mas pode-se observar grande aceitação do paciente para com o que lhe foi proposto. Outro ponto observado foi o fato das atividades realizadas não alterarem os sinais vitais do paciente. Este trabalho corroborou de forma positiva, pois ressalta a importância do tratamento fisioterapêutico na fase hospitalar do DVE, amenizando seus efeitos deletérios.

Palavras Chave: Intervenção, AVC, Fisioterapia.

INTRODUÇÃO

          A doença vascular encefálica (DVE) tem sido considerada problema mundial de saúde. É um dos maiores problemas de saúde pública nos úl­timos anos, sendo considerada uma das doenças mais incapacitantes. Dentre as incapacidades, podemos citar os prejuízos das funções motoras, limitação das atividades de vida diária, possível presença de déficits cognitivos e de linguagem, depressão e restrições para o convívio social, po­dendo assim, influenciar na qualidade de vida. [1][5]

          É definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “um sinal clínico de rápido desenvolvimento de perturbação focal da função cerebral, de suposta origem vascular e com mais de 24 horas de duração”. Acomete o sistema nervoso e é a principal causa de mortalidade e incapacidade na América do Sul, uma vez que diminui tanto a expectativa quanto o modo de vida dos indivíduos. Pode ser devido a uma obstrução de uma artéria, caracterizando o DVE isquêmico ou por ruptura de um vaso, o DVE hemorrágico. [6][9]

          O termo DVE significa o comprometimento súbito de função cerebral causado por inúmeras alterações histopatológicas que envolvem um ou vários vasos sanguíneos intracranianos. Os sinais e sintomas específicos do DVE estão diretamente relacionados com o local e a extensão da lesão. O DVE pode manifestar-se por déficit efêmero ou por seqüelas graves. Após DVE, alguns pacientes continuam lúcidos, enquanto outros podem apresentar confusão mental, delírio, amnésia, sonolência ou estado de coma. [2][12]

          Os déficits motores decorrentes do DVE caracterizam-se por hemiplegia ou hemiparesia, tipicamente no lado do corpo oposto ao local da lesão. Sendo que hemiplegia é definida como “paralisia dos músculos de uma metade do corpo contralateral ao lado do cérebro onde o DVE ocorreu”. Estes termos costumam ser usados genericamente para designar uma ampla variedade de problemas decorrentes da doença[7][9].

mo “paralisia dos músculos de uma metade do corpo contralateral ao lado do cérebro onde o DVE ocorreu”. Estes termos costumam ser usados genericamente para designar uma ampla variedade de problemas decorrentes da doença[7][9].

          A deficiência dos movimentos pode levar a limitações funcionais e incapacidades, estas se manifestam como uma perda de mobilidade no tronco e nas extremidades, padrões atípicos de movimento, estratégias compensatórias e ações involuntárias do hemicorpo afetado levando a perda da independência na vida diária[8].

          Aproximadamente 80% dos pacientes vítimas de DVE sobrevivem à fase aguda, embora a maioria dos pacientes recupere sua habilidade de caminhar, ainda 30 a 66% dos sobreviventes não são capazes de usar o braço afetado. [3]

          Embora os esforços preventivos tenham provocado significativo declínio em sua incidência nos últimos anos, o DVE é a terceira causa de morte. Há cerca de dois milhões de pessoas que sobreviveram ao DVE, as quais permanecem com alguma capacidade; destas, 40% necessitam de assistência nas atividades diárias. [2]

          Os fatores de risco individuais para o DVE são conhecidos já há algum tempo. Recomenda-se, então, a prevenção primária, com vista à modificação de alguns desses fatores, como hipertensão, colesterol sérico, tabagismo, obesidade, redução da tolerância à glicose, uso de contraceptivos orais em pessoas de risco e dieta rica em gordura saturada. [2]

          Estudos têm demonstrado que a DVE é a segunda causa de morte no mundo, com cerca de 4,5 milhões de vítimas anuais e a terceira causa mais comum de morte nos países desenvolvidos, superado apenas pelas doenças cardíacas e pelo câncer. [1]

          As atividades de vida diárias como alimentação, higiene e vestuário também serão prejudicadas, pela ausência ou diminuição da força e alteração do tônus muscular, além da presença de sinergismo patológico que dificultarão o movimento adequado do membro superior para a realização das mesmas. [4]

          Os pacientes perdem algumas funções, e as recuperam (em parte ou quase totalmente) devido a dois componentes: o intrínseco, por recuperação neurológica anatômica e fisiológica, pela redução de edema cerebral, desenvolvimento de novas vias e plasticidade neuronal; e o adaptativo, que ocorre através do aprendizado de novas maneiras para executar as funções. Sendo assim, a fisioterapia torna-se indispensável para a reorganização cortical e consequentemente o reaprendizado motor. [4]

          Algumas teorias acreditam que o tratamento precoce pode ser benéfico; de modo que previne alterações musculo-esqueléticas secundárias, como atrofia e dor, além de evitar o aprendizado de estratégias de movimentos anormais ou a inutilização do membro. [4]

          Desta forma, o objetivo do estudo foi avaliar a efetividade da intervenção fisioterapêutica em um paciente após DVE, ainda na fase hospitalar.

RELATO DE CASO

          G.G.N, gênero masculino, 83 anos, viúvo, internado no Hospital de Caridade e Beneficência (HCB) da cidade de Cachoeira do Sul-RS. Com diagnóstico de DVE (isquêmico e hemorrágico) com hemiparesia á direita.

          Durante anamnese o paciente relatou que tem sete filhos, tabagismo (um maço por dia, chegou a fumar dois maços por dia), agricultor, nega etilismo e relata ainda ser hipertenso e refere que tem alterações na prostata. Na avaliação fisioterapêutica, verificando os sinais vitais, constatou-se pressão arterial (PA) 140x90 mmHg; freqüência cardíaca (FC) 104 bpm; freqüência respiratória (FR) 32 irpm; e testes específicos como o de força muscular, tônus muscular, ADM, equilíbrio, AVD’s e coordenação. Sendo constatado espasticidade á direita, hipotrofia, diminuição de força do lado afetado e ataxia

          Após a avaliação inicial, foi realizada a intervenção fisioterapêutica, optando-se pelas condutas como exercícios ativos resistido, treino de marcha, treino de AVD’s e alongamentos passivos mantidos, com o objetivo de fortalecer musculatura, deambular normalmente, melhorar coordenação motora, manter ADM e a realização de suas AVD’s.

          A intervenção foi realizada no leito 153 A do HCB, no dia 21 de maio de 2010, não sendo possível continuar o tratamento devido o paciente ter obtido alta.

RESULTADOS

          O paciente deambulou com dificuldade precisando de auxílio e sentindo dor no hemicorpo acometido ao alongar.

          Não foi possível observar ganhos por tratar-se de apenas uma intervenção.

          Por outro lado, pode-se observar grande aceitação do paciente para com o que lhe foi proposto. Outro ponto observado foi o fato das atividades realizadas não alterarem os sinais vitais do paciente.

          Este trabalho corroborou de forma positiva, pois ressalta a importância do tratamento fisioterapêutico na fase hospitalar do DVE, amenizando seus efeitos deletérios.

DISCUSSÃO

          O Acidente Vascular Encefálico tem sido apontado como sendo predominante no gênero masculino, com média de idade entre 60 a 74 anos. Tais dados concordam parcialmente com este estudo, uma vez que o gênero foi o masculino, porém o indivíduo acometido por DVE é da faixa etária de 83 anos. [10]

          Porém o indivíduo enquadra-se em um dos principais fatores de risco para DVE, que é a idade acima de 64 anos. [13]

          Quanto ao perfil do paciente em relação à etiologia enquadra-se no que prevê a literatura que em estudo demonstrou maior prevalência de DVE isquêmico (85,5%) em relação ao hemorrágico. Lembrando que o paciente apresentou os dois quadros de DVE. O estado civil prevalente em outros estudos que analisaram o perfil dos pacientes pós-DVE foi o casado, diferentemente deste estudo. [10][11]

          A fisioterapia melhora o desempenho dos pacientes em atividades de vida diária, permitindo ao paciente que este possa ser independente; além disso, os estímulos devem buscar otimizar a reorganização cerebral, a partir de treino de tarefas básicas e atividades instrumentais das tarefas de vida diária, com estímulos terapêuticos e do ambiente sócio-familiar. [10]

          Em um estudo de análise de prontuários, Motta et al.[12], verificou que pacientes com DVE que recebem atendimento fisioterapêutico permanecem em média 8,7 dias hospitalizados enquanto que os pacientes que não recebem atendimento fisioterapêutico permanecem em média 16 dias, sugerindo um retardo na alta hospitalar por falta de intervenção fisioterapêutica. [12]

           A cinesioterapia é o uso do movimento ou exercício como forma de tratamento, a fim de reabi­litar ou reequilibrar as forças mecânicas atuantes no organismo como um todo, proporcionando melhora na qualidade do movimento e melhora na qualida­de de vida. Para isso, a cinesioterapia é de funda­mental importância para a fisioterapia, visto que o movimento só se cura com o movimento. [14]

          O alongamento muscular é um recurso utilizado tanto em programas de reabilitação como em ativi­dades esportivas, sendo útil na prevenção de lesões e no aumento da flexibilidade. As fibras muscu­lares são incapazes de alongar-se por si só, sendo necessária uma força externa aplicada ao músculo. Diversos são os métodos e técnicas descritos com o objetivo de promover o alongamento muscular, sendo o estático o mais utilizado para se obter aumento da flexibilidade e relaxamento e utiliza exercícios que podem ser realizados de forma isolada ou de maneira global, envolvendo diversos segmentos simultaneamente. Durante o alongamento estático, a tensão criada nos grupos musculares é de baixa intensidade, permitindo conforto ao paciente e eficácia ao tratamento. [15][16]

          As principais técnicas de alongamento variam em alongamento passivo ou estático, balístico e modalidades que utilizam facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Amparando desta forma as condutas adotadas neste estudo [16]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

          Este trabalho corroborou de forma positiva, pois ressalta a importância do tratamento fisioterapêutico na fase hospitalar do DVE, amenizando seus efeitos deletérios. Estando de acordo com a literatura existente que comprova a eficácia da fisioterapia na reabilitação de pacientes portadores de DVE e na diminuição do tempo de internação hospitalar, prevenindo e resguardando o paciente com DVE das complicações da imobilidade imposta pelo leito, como a debilidade de movimentos e úlceras de pressão.

REFERÊNCIAS

[1] Oliveira H A, Moreira A J P, Oliveira A M P. Ritmo Circadiano e Doença Vascular Encefálica. Arquivo de Neuropsiquiatria. 2004; 62 (2-A): 292-296.

[2] Lima V, Caetano J A, Soares E, Santos Z M S A. Fatores de Riscos Associados a Hipertensão arterial Sistêmica em Vitimas de Acidente Vascular Cerebral. Revista Brasileira em Promoção da Saúde. 2006; 19 (3): 149-154.

[3] Meneghetti C H Z, Silva J A, Guedes C A V. Terapia de restrição e indução ao movimento no paciente com AVC: relato de caso. Revista de Neurociência. 2010; 18(1): 18-23.

[4] Valente S C F, Paula E B, Abranches M, Costa V, Borges H, Chamlian T R, Masiero D. Resultados da fisioterapia hospitalar na função do membro superior comprometido após acidente vascular encefálico. Revista Neurociência. 2006; 14(3): 122-126.

[5] Oliveira M R, Orsini M. Escala de Avaliação da qualidade de vida em pacientes brasileiros após acidente vascular encefálico. Revista Neurociência. 2009; 17(3): 255-262.

[6] Schuster R C, Zadra K, Luciano M, Polese J C, Mazzola D, Sander I, Pimentel G L. Análise da pressão plantar em pacientes com acidente vascular encefálico. Revista Neurociência. 2008; 16(3): 179-183.

[7] O’Sullivan SB, Scmhmitz T. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. Manole, 2004.

[8] Umphred DA. Reabilitação Neurológica. Manole, 2004.

[9] Stokes M. Fisioterapia en rehabilitación neurológica. Elsevier, 2006.

[10] Polese J C, Tonial A, Jung F K, Mazuco R, Oliveira S G, Schuster R C. Avaliação da Funcionalidade de indivíduos acometidos por acidente vascular encefálico. Revista Neurociência. 2008; 16(3): 175-178.

[11] Meneghetti C H Z, Delgado G M, Pinto F D, Canonici A P, Gaino M R C. Equilíbrio em indivíduos com acidente vascular encefálico: Clínica Escola de Fisioterapia de Uniararas. Revista Neurociências. 2009; 17(1): 14-18.

[12] Motta E, Natalino M A, Waltrick P T. Intervenção Fisioterapêutica e tempo de internação em pacientes com Acidente Vascular Encefálico. Revista Neurociências. 2008; 16(2): 118-123.

[13] Pires SL, Gagliardi RJ, Gorzoni ML. Estudo das freqüências dos principais fatores de risco para acidente vascular cerebral isquêmico em idosos. Arquivo de Neuropsiquiatria. 2004; 62(3-B): 844-851.

[14] Calil S R, Santos T A B P, Braga D M, Labronici R H D D. Reabilitação por meio da dança: uma proposta fisioterapêutica em pacientes com seqüela de AVC. Revista Neurociência. 2007; 15(3): 195–202.

[15] Moreno M A, Catai A M, Teodori R M, Borges B L A, Cesar M C, Silva E. Efeito de um programa de alongamento muscular pelo método de Reeducação Postural Global sobre a força muscular respiratória e a mobilidade toraco-abdominal de homens jovens sedentários. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007; 33(6): 679-686.

[16] Gama Z A S, Medeiros C A S, Dantas A V R, Souza T O. Influência da freqüência de alongamento utilizando facilitação neuromuscular proprioceptiva na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2007; 13(1): 33-38.

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